segunda-feira, 13 de junho de 2011

O LIVRO AMARELO - Hailton Mangabeira


O LIVRO AMARELO

(Hailton Mangabeira)


Que história emocionante,

É essa que vou contar,

Quero logo ressaltar,

Tem um grande ensinamento,

E digo nesse momento,

Eu até me emocionei,

Quantas vezes eu parei,

Quando tava escrevendo,

A lágrima ia descendo,

Noutras nem mesmo notei.


Quando ele era pequeno,

Todo dia era certo,

Seu pai chamava pra perto,

E sentava-se no chão,

E com muita atenção,

No tamborete sentado,

Ficava até emocionado,

Na hora da contação,

Não sabia da razão,

Nem porque do seu estado.


Era um livro amarelo,

Que o seu pai sempre lia,

Momentos de alegria,

Que ele foi se acostumando,

E ficava esperando,

Pra essa hora chegar,

Ele ia pro seu lugar,

Chega ficava babando,

Na história viajando,

Pegava-se a recordar.


Era tanta da história,

Tinha fada e guerreiro,

Fazendeiro e vaqueiro,

Tinha rico, tinha pobre,

De camponês e de nobre,

De amor, de sentimento,

De saudade, de tormento,

De tristeza, de alegria,

De sonho, de fantasia,

Se fazia de momento.


Foi então que foi chegado,

O tempo de ir estudar,

Começou a soletrar,

As letras do alfabeto,

O mundo ficava aberto,

Mas seu pai continuava,

Uma história bem contada,

Todo dia acontecia,

Suscitava alegria,

É mesmo conto de fada.


Teve um dia que seu pai,

Que uma capa colocou,

E desta forma falou:

Que era pro livro zelar,

Mas não deixou de contar,

As histórias todo dia,

E nessa hora se via,

Cheio de satisfação,

Muita paz no coração,

Era como se sentia.


Terminada a leitura,

O livro seu pai guardava,

E depois que se deitava,

Dormia um sono profundo,

A melhor coisa do mundo,

Acordava bem cedinho,

Recoberto de carinho,

Ele saia pra escola,

O caderno na sacola,

E pegava o caminho.


Por obedecer seu pai,

Só ficava na vontade,

O que queria de verdade,

Era o livro pra pegar,

E nele regozijar,

Fazer uma releitura,

No seu mundo de aventura,

Mas nunca nele pegou,

Pois seu pai nunca deixou,

Sem perder a compostura.


O menino foi crescendo,

Foi tornando-se um rapaz,

E cada vez mais capaz,

Vivia se destacando,

Na escola, um encanto,

A lição que adorava,

Quando o professor falava,

Ele tudo já sabia,

E de pronto respondia,

Aquilo que perguntava.


E quando ele ficou adulto,

Consagrou-se escritor,

De nível superior,

Um talento invejável,

Isso era inevitável,

Pois teve uma base boa,

E olhe, que não foi à toa,

Pois seu pai propiciou,

Cedinho condicionou,

Para ser boa pessoa.


Pois gostava de leitura,

Ao seu pai se igualava,

A cada dia se mostrava,

Mais e mais inteligente,

Um exímio competente,

Das letras, um arquiteto,

As palavras, objeto,

Pois era o seu labutar,

Sem sequer pestanejar,

Fazia de tudo correto.


E foi embora pra longe,

O destino quis assim,

E não pense que é o fim,

Do mundo, um cidadão,

De grande repercussão,

E Vivendo a viajar,

Conheceu cada lugar,

Na imensidão do planeta,

Ligeiro como cometa,

É como os olhos piscar.


Um dia numa palestra,

Seu telefone tocou,

E aquilo que ele escutou,

Parou a respiração,

Bateu forte o coração,

A notícia entristeceu,

Foi que seu pai faleceu,

Sem ao menos esperar,

Um dia ele voltar,

De volta pro braço seu.


Pra contar mais uma história,

Aquelas de antigamente,

E sentiu profundamente,

Uma perda irreparável,

Era dano incalculável,

Nem doutor daria jeito,

Pois na vida dum sujeito,

Que o pai e mãe perdeu,

E sabe como sofreu,

As causas desse efeito.


No instante, na lembrança,

Reviveu a trajetória,

Com seu pai, cada história,

Naquela casa humilde,

Parecendo como filme,

As cenas iam passando,

E que ele ali recordando,

Numa fração de segundo,

Do outro lado do mundo,

O passado foi chegando.


Lembrou do livro amarelo,

O eterno companheiro,

Valia mais que dinheiro,

Pois foi como iniciou,

Nas letras e recordou,

Na hora que lá chegar,

Ligeiro vou procurar,

Vai ser a minha herança,

Do meu tempo de criança,

Pro meu filho recontar.


E chegando a tristeza,

Abateu seu coração,

E sentiu forte emoção,

Pois seu pai já não estava,

Aquele que tanto amava,

Que lhe dava segurança,

Só carinho e esperança,

Levaram ao mausoléu,

E certamente pro céu,

Era homem de bonança.


Soltando a mala no chão,

E do livro se lembrou,

As histórias rebuscou,

Começou a procurar,

Pois sabia do lugar,

Onde seu pai guardava,

No camiseiro, na mala,

Depois de cada leitura,

Início duma cultura,

Até hoje cultivada.


O cheiro daquela casa,

Trazia-lhe recordação,

Nessa hora o coração,

Foi batendo acelerado,

Forte e descompassado,

Que chegou a incomodar,

Só em ele observar,

Que o camiseiro lá estava,

E dentro tinha uma mala,

Faltava-lhe até o ar.


Aquele espaço humilde

Guardando o livro amarelo,

Singular e bem singelo,

Pegou a mala na Mão,

Sentiu forte emoção,

E a mala foi abrindo,

O passado vinha vindo,

Um momento precioso,

Ou até mais glorioso,

A voz do seu pai ouvindo.


Quando ele viu o livro,

Do mesmo jeito estava,

Protegido pela mala,

Sem qualquer alteração,

Tinha ainda a proteção,

Da cobertura da capa,

E foi nessa mesma etapa,

Que ele antes de abrir,

Queria redescobrir,

De novo aquela capa.


Mais antes de retirar,

O papel da cobertura,

Fez ele uma mistura,

De passado e de presente,

E agora finalmente,

Ele iria conhecer,

O livro, seu bem querer,

Foi rasgando o que cobria,

O amarelo aparecia,

E ele pôde perceber.


Foi grande sua surpresa,

Ao livro observar,

Não dava pra acreditar,

Era uma lista telefônica,

Uma idéia desarmônica,

Não podia entender,

O que tava acontecer,

E tudo que o pai contava,

De onde ele tirava,

Quase não podia crer.


Em conversa com parentes,

Então ele descobriu,

Forte emoção sucumbiu,

Que seu pai não sabia ler,

E para compreender,

Qual era a motivação,

Do seu pai, qual a razão,

De histórias inventar,

Pra fazer me alegrar,

Fez-se essa a questão.


Na verdade o seu pai,

Tinha preocupação,

De formar um cidadão,

Capaz de compreender,

Pois sabia que o ler,

Na verdade libertava,

Por isso que ele inventava,

Pro filho acostumar,

Leitura valorizar,

Ter flores na caminhada.


Foi onde caiu a ficha,

Foi aonde compreendeu,

Tudo o que aconteceu,

Aquilo que o pai fazia,

Na busca da primazia,

Insigne contador,

Do filho fez um leitor,

Foi seu pai o seu começo,

Educação vem de berço,

Com carinho e com amor.


Pra você, papai, mamãe,

Antes do filho dormir,

E ao invés de assistir,

A novela indecente,

Pense e faça diferente,

E pegue um livro que tem,

Contando e faça também,

Ou escolha uma história,

Ou invente na memória,

Que os anjos dizem amém.

4 comentários:

  1. Sr. Hailton,

    Seu poema-cordel me emocionou, por que traz a verdade contada pela alma da fantasia, que sempre tem a esperança de viver uma nova história... Por isso, contar histórias, seja pela prosa ou pela poesioa, seja no stilo que for, sempre será a renovação da vida no coração das pessoas. Adorei! Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. Lindo, emocionante e cheio de ternura o seu cordel! Parabéns e Grata pela rica leitura!
    Cheguei aqui por encontrar a dica de leitura na página do FB da amiga e grande escritora Madalena Barranco! E tive a feliz pois o cordel é encantador!

    Um abraço com admiração!
    da Eliana

    ResponderExcluir