O LIVRO AMARELO
(Hailton Mangabeira)
Que história emocionante,
É essa que vou contar,
Quero logo ressaltar,
Tem um grande ensinamento,
E digo nesse momento,
Eu até me emocionei,
Quantas vezes eu parei,
Quando tava escrevendo,
A lágrima ia descendo,
Noutras nem mesmo notei.
Quando ele era pequeno,
Todo dia era certo,
Seu pai chamava pra perto,
E sentava-se no chão,
E com muita atenção,
No tamborete sentado,
Ficava até emocionado,
Na hora da contação,
Não sabia da razão,
Nem porque do seu estado.
Era um livro amarelo,
Que o seu pai sempre lia,
Momentos de alegria,
Que ele foi se acostumando,
E ficava esperando,
Pra essa hora chegar,
Ele ia pro seu lugar,
Chega ficava babando,
Na história viajando,
Pegava-se a recordar.
Era tanta da história,
Tinha fada e guerreiro,
Fazendeiro e vaqueiro,
Tinha rico, tinha pobre,
De camponês e de nobre,
De amor, de sentimento,
De saudade, de tormento,
De tristeza, de alegria,
De sonho, de fantasia,
Se fazia de momento.
Foi então que foi chegado,
O tempo de ir estudar,
Começou a soletrar,
As letras do alfabeto,
O mundo ficava aberto,
Mas seu pai continuava,
Uma história bem contada,
Todo dia acontecia,
Suscitava alegria,
É mesmo conto de fada.
Teve um dia que seu pai,
Que uma capa colocou,
E desta forma falou:
Que era pro livro zelar,
Mas não deixou de contar,
As histórias todo dia,
E nessa hora se via,
Cheio de satisfação,
Muita paz no coração,
Era como se sentia.
Terminada a leitura,
O livro seu pai guardava,
E depois que se deitava,
Dormia um sono profundo,
A melhor coisa do mundo,
Acordava bem cedinho,
Recoberto de carinho,
Ele saia pra escola,
O caderno na sacola,
E pegava o caminho.
Por obedecer seu pai,
Só ficava na vontade,
O que queria de verdade,
Era o livro pra pegar,
E nele regozijar,
Fazer uma releitura,
No seu mundo de aventura,
Mas nunca nele pegou,
Pois seu pai nunca deixou,
Sem perder a compostura.
O menino foi crescendo,
Foi tornando-se um rapaz,
E cada vez mais capaz,
Vivia se destacando,
Na escola, um encanto,
A lição que adorava,
Quando o professor falava,
Ele tudo já sabia,
E de pronto respondia,
Aquilo que perguntava.
E quando ele ficou adulto,
Consagrou-se escritor,
De nível superior,
Um talento invejável,
Isso era inevitável,
Pois teve uma base boa,
E olhe, que não foi à toa,
Pois seu pai propiciou,
Cedinho condicionou,
Para ser boa pessoa.
Pois gostava de leitura,
Ao seu pai se igualava,
A cada dia se mostrava,
Mais e mais inteligente,
Um exímio competente,
Das letras, um arquiteto,
As palavras, objeto,
Pois era o seu labutar,
Sem sequer pestanejar,
Fazia de tudo correto.
E foi embora pra longe,
O destino quis assim,
E não pense que é o fim,
Do mundo, um cidadão,
De grande repercussão,
E Vivendo a viajar,
Conheceu cada lugar,
Na imensidão do planeta,
Ligeiro como cometa,
É como os olhos piscar.
Um dia numa palestra,
Seu telefone tocou,
E aquilo que ele escutou,
Parou a respiração,
Bateu forte o coração,
A notícia entristeceu,
Foi que seu pai faleceu,
Sem ao menos esperar,
Um dia ele voltar,
De volta pro braço seu.
Pra contar mais uma história,
Aquelas de antigamente,
E sentiu profundamente,
Uma perda irreparável,
Era dano incalculável,
Nem doutor daria jeito,
Pois na vida dum sujeito,
Que o pai e mãe perdeu,
E sabe como sofreu,
As causas desse efeito.
No instante, na lembrança,
Reviveu a trajetória,
Com seu pai, cada história,
Naquela casa humilde,
Parecendo como filme,
As cenas iam passando,
E que ele ali recordando,
Numa fração de segundo,
Do outro lado do mundo,
O passado foi chegando.
Lembrou do livro amarelo,
O eterno companheiro,
Valia mais que dinheiro,
Pois foi como iniciou,
Nas letras e recordou,
Na hora que lá chegar,
Ligeiro vou procurar,
Vai ser a minha herança,
Do meu tempo de criança,
Pro meu filho recontar.
E chegando a tristeza,
Abateu seu coração,
E sentiu forte emoção,
Pois seu pai já não estava,
Aquele que tanto amava,
Que lhe dava segurança,
Só carinho e esperança,
Levaram ao mausoléu,
E certamente pro céu,
Era homem de bonança.
Soltando a mala no chão,
E do livro se lembrou,
As histórias rebuscou,
Começou a procurar,
Pois sabia do lugar,
Onde seu pai guardava,
No camiseiro, na mala,
Depois de cada leitura,
Início duma cultura,
Até hoje cultivada.
O cheiro daquela casa,
Trazia-lhe recordação,
Nessa hora o coração,
Foi batendo acelerado,
Forte e descompassado,
Que chegou a incomodar,
Só em ele observar,
Que o camiseiro lá estava,
E dentro tinha uma mala,
Faltava-lhe até o ar.
Aquele espaço humilde
Guardando o livro amarelo,
Singular e bem singelo,
Pegou a mala na Mão,
Sentiu forte emoção,
E a mala foi abrindo,
O passado vinha vindo,
Um momento precioso,
Ou até mais glorioso,
A voz do seu pai ouvindo.
Quando ele viu o livro,
Do mesmo jeito estava,
Protegido pela mala,
Sem qualquer alteração,
Tinha ainda a proteção,
Da cobertura da capa,
E foi nessa mesma etapa,
Que ele antes de abrir,
Queria redescobrir,
De novo aquela capa.
Mais antes de retirar,
O papel da cobertura,
Fez ele uma mistura,
De passado e de presente,
E agora finalmente,
Ele iria conhecer,
O livro, seu bem querer,
Foi rasgando o que cobria,
O amarelo aparecia,
E ele pôde perceber.
Foi grande sua surpresa,
Ao livro observar,
Não dava pra acreditar,
Era uma lista telefônica,
Uma idéia desarmônica,
Não podia entender,
O que tava acontecer,
E tudo que o pai contava,
De onde ele tirava,
Quase não podia crer.
Em conversa com parentes,
Então ele descobriu,
Forte emoção sucumbiu,
Que seu pai não sabia ler,
E para compreender,
Qual era a motivação,
Do seu pai, qual a razão,
De histórias inventar,
Pra fazer me alegrar,
Fez-se essa a questão.
Na verdade o seu pai,
Tinha preocupação,
De formar um cidadão,
Capaz de compreender,
Pois sabia que o ler,
Na verdade libertava,
Por isso que ele inventava,
Pro filho acostumar,
Leitura valorizar,
Ter flores na caminhada.
Foi onde caiu a ficha,
Foi aonde compreendeu,
Tudo o que aconteceu,
Aquilo que o pai fazia,
Na busca da primazia,
Insigne contador,
Do filho fez um leitor,
Foi seu pai o seu começo,
Educação vem de berço,
Com carinho e com amor.
Pra você, papai, mamãe,
Antes do filho dormir,
E ao invés de assistir,
A novela indecente,
Pense e faça diferente,
E pegue um livro que tem,
Contando e faça também,
Ou escolha uma história,
Ou invente na memória,
Que os anjos dizem amém.
Sr. Hailton,
ResponderExcluirSeu poema-cordel me emocionou, por que traz a verdade contada pela alma da fantasia, que sempre tem a esperança de viver uma nova história... Por isso, contar histórias, seja pela prosa ou pela poesioa, seja no stilo que for, sempre será a renovação da vida no coração das pessoas. Adorei! Um grande abraço.
Da minha coleção, é o que mais gosto!
ExcluirLindo, emocionante e cheio de ternura o seu cordel! Parabéns e Grata pela rica leitura!
ResponderExcluirCheguei aqui por encontrar a dica de leitura na página do FB da amiga e grande escritora Madalena Barranco! E tive a feliz pois o cordel é encantador!
Um abraço com admiração!
da Eliana
Muito obrigado pelo carinho!
ResponderExcluir