domingo, 8 de janeiro de 2012
ÁUDIOS E VÍDEOS DE JOSÉ PACHECO, fundador da ESCOLA DA PONTE
Vídeos:
http://www.youtube.com/watch?v=iDH8Tjl9UW8
terça-feira, 28 de junho de 2011
O GRANDE ENCONTRO DO CANGACEIRO JESUINO BRILHANTE COM O CABO PRETO LIMÃO Autor: Gil Hollanda
Pra quem estuda o cangaço
Agora eu vou contar
Em sextilhas de cordel
Um encontro de lascar
Que aconteceu no sertão
Do Oeste potiguar.
Foi no tempo do império
Bem antes de Virgulino
Em dezoito e sete e nove
Que o cangaço nordestino
Tem datado em sua história
Esse confronto assassino.
Trata-se do grande encontro
Do Cabo Preto Limão
Com Jesuíno Brilhante:
Um herói, outro vilão
Ou um vilão, outro herói?
Eis a tal da discussão.
JESUINO BRILHANTE
Meu nome é Jesuino
Sou Brilhante, sim senhor!
Conhecido no sertão
Como um nobre vingador
Que assim como Robin Hood
Do pobre sou defensor.
PRETO LIMÃO
Esta é sua versão
Seu ‘amarelo assassino’
Pra querer ser um herói
Mas agora eu lhe ensino
O bê-á-bá dos limões
Que aprendi desde menino.
Nem se apresenta sequer
E quer logo entrar na história
Só falando o que bem quer
Diga primeiro quem é
Pois eu não sou um qualquer.
PRETO LIMÃO
Eu sou o Cabo José
O Cabo Preto Limão
Sento praça na polícia
Com esta arma na mão
Sou a vingança e a justiça
Dos negros deste sertão.
JESUINO BRILHANTE
É somente um pau mandado
A serviço do poder
Conservador deste Estado
Justiça aqui não existe
A não ser do meu ‘bargado’.
PRETO LIMÃO
Este sertão não é seu
Aqui a lei é do cão
Não se esqueça que sou livre
Mesmo em plena escravidão
Estou aqui pra vingar
A morte de mais um irmão.
JESUINO BRILHANTE
Por vingança aos limões
No cangaço eu entrei
O seu irmão Honorato
Fui eu mesmo que matei
Mas por suas desavenças
Fiz valer a minha lei.
PRETO LIMÃO
Que lei é essa, seu cabra?!
A lei de um cangaceiro
Foragido da polícia
Que se diz ser justiceiro?
Vou lhe mostrar agora
Quem manda neste terreiro
JESUINO BRILHANTE
Meu cangaço é do bem
Não sou ladrão de caprino
E nunca toco no alheio
Respeito o velho e o menino
Sou defensor da mulher
E do pobre nordestino.
Chega de contar proeza
De querer ser o mocinho
Cangaceiro é bandido
Não importa o seu caminho
Se é assim tão valente
Me enfrente agora sozinho.
JESUINO BRILHANTE
Seu Limão desaforado
Mal saísse da senzala
Como negro alforriado
E já acha então que pode
Mandar aqui no arruado.
PRETO LIMÃO
E em qualquer outro arruado:
Imperatriz, Mossoró
Patu, Brejo ou Catolé
Cangaceiro vira pó!
Pois comigo na polícia
Meu comando é um só.
JESUINO BRILHANTE
Ora, ora, quem já viu!
Um negro fujão da guerra
Da Guerra do Paraguai
Um quilombola da serra
Que matou o nosso alferes
Se achando o dono da terra
PRETO LIMÃO
Eu somente luto e mato
Pra proteger minha gente
A minha guerra é outra
Meu Brasil é diferente
Paraguai eu nem conheço
Pra botar neste repente.
JESUINO BRILHANTE
Isto aqui não é repente
É a Lei de Talião
Meu código é de honra
Com minha arma na mão
Meu verso tem sete tiros
É um pra cada Limão.
Minha arma é de aço
Desista desta peleja
Acabou o seu cangaço
Esta bala envenenada
Vai deixá-lo no bagaço.
JESUINO BRILHANTE
Já queimei o limoeiro
E um limão não faz verão
Dá um suco bem ligeiro
Pra com cachaça virar
Bebida de cangaceiro.
PRETO LIMÃO
Aqui é olho no olho
E também dente por dente
Limoeiro tem espinho
E limão deixa semente
Cangaceiro vira adubo
Ao ficar na minha frente.
JESUINO BRILHANTE
Ô negro metido a besta!
Pensa até que é eterno
Limão preto não se planta
Nem no verão nem no inverno
Porque semente daninha
Só se planta no inferno.
Mas o inferno é aqui
Seu amarelo maldito
Se pensa que vai pro céu
(O que eu não acredito)
Comece logo a rezar
Pro grande São Benedito.
JESUINO BRILHANTE
Se a justiça aqui for feita
Neste sertão que não chora
Nem pro inferno nem pro céu
Nosso encontro acaba agora
Vamos é ficar pra história
Ao chegar a nossa hora.
Mas naquele mesmo instante
Jesuino foi cercado
Pela tropa da polícia
E com destino marcado
Jesuíno teve ali
Seu cangaço sepultado.
E uma trova popular
Ecoou pelo sertão:
“Já mataram Jesuíno!
Acabou-se o valentão!
Morreu no campo de honra
Sem se entregar à prisão.
FIM
segunda-feira, 13 de junho de 2011
O LIVRO AMARELO - Hailton Mangabeira
O LIVRO AMARELO
(Hailton Mangabeira)
Que história emocionante,
É essa que vou contar,
Quero logo ressaltar,
Tem um grande ensinamento,
E digo nesse momento,
Eu até me emocionei,
Quantas vezes eu parei,
Quando tava escrevendo,
A lágrima ia descendo,
Noutras nem mesmo notei.
Quando ele era pequeno,
Todo dia era certo,
Seu pai chamava pra perto,
E sentava-se no chão,
E com muita atenção,
No tamborete sentado,
Ficava até emocionado,
Na hora da contação,
Não sabia da razão,
Nem porque do seu estado.
Era um livro amarelo,
Que o seu pai sempre lia,
Momentos de alegria,
Que ele foi se acostumando,
E ficava esperando,
Pra essa hora chegar,
Ele ia pro seu lugar,
Chega ficava babando,
Na história viajando,
Pegava-se a recordar.
Era tanta da história,
Tinha fada e guerreiro,
Fazendeiro e vaqueiro,
Tinha rico, tinha pobre,
De camponês e de nobre,
De amor, de sentimento,
De saudade, de tormento,
De tristeza, de alegria,
De sonho, de fantasia,
Se fazia de momento.
Foi então que foi chegado,
O tempo de ir estudar,
Começou a soletrar,
As letras do alfabeto,
O mundo ficava aberto,
Mas seu pai continuava,
Uma história bem contada,
Todo dia acontecia,
Suscitava alegria,
É mesmo conto de fada.
Teve um dia que seu pai,
Que uma capa colocou,
E desta forma falou:
Que era pro livro zelar,
Mas não deixou de contar,
As histórias todo dia,
E nessa hora se via,
Cheio de satisfação,
Muita paz no coração,
Era como se sentia.
Terminada a leitura,
O livro seu pai guardava,
E depois que se deitava,
Dormia um sono profundo,
A melhor coisa do mundo,
Acordava bem cedinho,
Recoberto de carinho,
Ele saia pra escola,
O caderno na sacola,
E pegava o caminho.
Por obedecer seu pai,
Só ficava na vontade,
O que queria de verdade,
Era o livro pra pegar,
E nele regozijar,
Fazer uma releitura,
No seu mundo de aventura,
Mas nunca nele pegou,
Pois seu pai nunca deixou,
Sem perder a compostura.
O menino foi crescendo,
Foi tornando-se um rapaz,
E cada vez mais capaz,
Vivia se destacando,
Na escola, um encanto,
A lição que adorava,
Quando o professor falava,
Ele tudo já sabia,
E de pronto respondia,
Aquilo que perguntava.
E quando ele ficou adulto,
Consagrou-se escritor,
De nível superior,
Um talento invejável,
Isso era inevitável,
Pois teve uma base boa,
E olhe, que não foi à toa,
Pois seu pai propiciou,
Cedinho condicionou,
Para ser boa pessoa.
Pois gostava de leitura,
Ao seu pai se igualava,
A cada dia se mostrava,
Mais e mais inteligente,
Um exímio competente,
Das letras, um arquiteto,
As palavras, objeto,
Pois era o seu labutar,
Sem sequer pestanejar,
Fazia de tudo correto.
E foi embora pra longe,
O destino quis assim,
E não pense que é o fim,
Do mundo, um cidadão,
De grande repercussão,
E Vivendo a viajar,
Conheceu cada lugar,
Na imensidão do planeta,
Ligeiro como cometa,
É como os olhos piscar.
Um dia numa palestra,
Seu telefone tocou,
E aquilo que ele escutou,
Parou a respiração,
Bateu forte o coração,
A notícia entristeceu,
Foi que seu pai faleceu,
Sem ao menos esperar,
Um dia ele voltar,
De volta pro braço seu.
Pra contar mais uma história,
Aquelas de antigamente,
E sentiu profundamente,
Uma perda irreparável,
Era dano incalculável,
Nem doutor daria jeito,
Pois na vida dum sujeito,
Que o pai e mãe perdeu,
E sabe como sofreu,
As causas desse efeito.
No instante, na lembrança,
Reviveu a trajetória,
Com seu pai, cada história,
Naquela casa humilde,
Parecendo como filme,
As cenas iam passando,
E que ele ali recordando,
Numa fração de segundo,
Do outro lado do mundo,
O passado foi chegando.
Lembrou do livro amarelo,
O eterno companheiro,
Valia mais que dinheiro,
Pois foi como iniciou,
Nas letras e recordou,
Na hora que lá chegar,
Ligeiro vou procurar,
Vai ser a minha herança,
Do meu tempo de criança,
Pro meu filho recontar.
E chegando a tristeza,
Abateu seu coração,
E sentiu forte emoção,
Pois seu pai já não estava,
Aquele que tanto amava,
Que lhe dava segurança,
Só carinho e esperança,
Levaram ao mausoléu,
E certamente pro céu,
Era homem de bonança.
Soltando a mala no chão,
E do livro se lembrou,
As histórias rebuscou,
Começou a procurar,
Pois sabia do lugar,
Onde seu pai guardava,
No camiseiro, na mala,
Depois de cada leitura,
Início duma cultura,
Até hoje cultivada.
O cheiro daquela casa,
Trazia-lhe recordação,
Nessa hora o coração,
Foi batendo acelerado,
Forte e descompassado,
Que chegou a incomodar,
Só em ele observar,
Que o camiseiro lá estava,
E dentro tinha uma mala,
Faltava-lhe até o ar.
Aquele espaço humilde
Guardando o livro amarelo,
Singular e bem singelo,
Pegou a mala na Mão,
Sentiu forte emoção,
E a mala foi abrindo,
O passado vinha vindo,
Um momento precioso,
Ou até mais glorioso,
A voz do seu pai ouvindo.
Quando ele viu o livro,
Do mesmo jeito estava,
Protegido pela mala,
Sem qualquer alteração,
Tinha ainda a proteção,
Da cobertura da capa,
E foi nessa mesma etapa,
Que ele antes de abrir,
Queria redescobrir,
De novo aquela capa.
Mais antes de retirar,
O papel da cobertura,
Fez ele uma mistura,
De passado e de presente,
E agora finalmente,
Ele iria conhecer,
O livro, seu bem querer,
Foi rasgando o que cobria,
O amarelo aparecia,
E ele pôde perceber.
Foi grande sua surpresa,
Ao livro observar,
Não dava pra acreditar,
Era uma lista telefônica,
Uma idéia desarmônica,
Não podia entender,
O que tava acontecer,
E tudo que o pai contava,
De onde ele tirava,
Quase não podia crer.
Em conversa com parentes,
Então ele descobriu,
Forte emoção sucumbiu,
Que seu pai não sabia ler,
E para compreender,
Qual era a motivação,
Do seu pai, qual a razão,
De histórias inventar,
Pra fazer me alegrar,
Fez-se essa a questão.
Na verdade o seu pai,
Tinha preocupação,
De formar um cidadão,
Capaz de compreender,
Pois sabia que o ler,
Na verdade libertava,
Por isso que ele inventava,
Pro filho acostumar,
Leitura valorizar,
Ter flores na caminhada.
Foi onde caiu a ficha,
Foi aonde compreendeu,
Tudo o que aconteceu,
Aquilo que o pai fazia,
Na busca da primazia,
Insigne contador,
Do filho fez um leitor,
Foi seu pai o seu começo,
Educação vem de berço,
Com carinho e com amor.
Pra você, papai, mamãe,
Antes do filho dormir,
E ao invés de assistir,
A novela indecente,
Pense e faça diferente,
E pegue um livro que tem,
Contando e faça também,
Ou escolha uma história,
Ou invente na memória,
Que os anjos dizem amém.